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Newsletter Junho 2018


A relação da composição corporal e toxicidade à quimioterapia em pacientes oncológicos


Um dos maiores desafios na administração de medicamentos quimioterápicos é diminuir a variação interindividual. Uma das formas de diminuir essa limitacão é por meio do uso da área de superfície corporal (SC). Apesar de amplamente utilizada, a SC tem pouca correlação com a depuração (clearance) dessas drogas. A redução na variabilidade da depuração dos agentes quimioterápicos é estimada em apenas 15%. O uso da SC é estabelecido na prática clínica para estimar a dose inicial em estudos clínicos de fase I, baseando-se no conhecimento de que a taxa de metabolismo basal varia entre espécies de acordo com a massa corporal (lei de escalas alométricas). Isso foi extrapolado para dosagem da grande maioria de medicamentos quimioterápicos utilizando fórmulas como a de Dubois & Dubois (1)

Cálculo da superfície corporal= SC (m2) = 0,007184 x [Altura (cm)]0,725 x [Peso corporal (kg)0,425]

Essa equação contempla apenas peso corporal e altura, não considerando a composição corporal do indivíduo. Os pacientes podem apresentar peso corporal e índice de massa corporal (IMC) adequados, porém composição corporal alterada

. É comum observar baixa muscularidade (diapenia) em pacientes em todas as categorias de IMC e estágios do câncer . Nossos estudos mostram que a diversidade na composição corporal de pacientes com câncer é extremamente comum, e a pouca massa magra pode interferir negativamente no tratamento quimioterápico (2-4). Por exemplo, pacientes ilustrados na Figura 1 recebem a mesma dosagem quimioterápica considerando que apresentam IMCs idênticos (e consequentemente SC idênticas). Contudo, o paciente com pouca massa magra receberia uma quantidade muito maior de quimoterapia (ou seja, uma overdose), tendo em vista o local de metabolização do medicamento (5).

Estes pacientes apresentam alta incidência de toxicidade grave. Esse fenômeno foi observado em diversos estudos, incluindo pacientes com diferentes tipos de câncer e recebendo diferentes tipos de quimioterapias, como revisado em nossas publicações (2, 5-6). Esses estudos confirmam que independentemente do IMC, pacientes com baixa quantidade de massa magra apresentam maior incidência de dose limite de toxicidade. Esse tipo de toxicidade é considerada grave e indesejável, pois pode resultar em atrasos e reduções na dose, interrupção do tratamento, hospitalização e morte.

Um dos possíveis mecanismos que explica esse problema são as mudanças fisiológicas relacionadas a baixa massa magra que influenciam a farmacocinética do tratamento. A baixa massa magra também afeta o processo de distribuição e metabolismo dos agentes quimioterápicos no organismo, aumentando o risco da toxicidade grave (4).

Estudos em fase de execução estão investigando a administração de doses de drogas quimioterápicas de acordo com a quantidade de massa magra em comparação a SC. É importante destacar, como descrito em publicação anterior, que a baixa massa magra é um potencial alvo terapêutico da terapia nutricional (7).


Referências Bibliográficas

1. Dubois D, Dubois EF. A formula to estimate the approximate surface area if height and weight be known. Arch Intern Med. 1916; 17:863-871.

2. Prado CM, Cushen S, Orsso C, Ryan A. Sarcopenia and Cachexia in the Era of Obesity: Clinical and Nutritional Impact. Proceeding of the Nutrition Society. 2016;75(2):188-98.

3. Caan BJ, Meyerhadt JA, Kroenke CH, Alexeeff S, Xiao J, Weltzien E, Cespedes Feliciano EM, Castillo AL, Quesenberry CP, Kwan MK, Prado CM. Explaining the obesity paradox: the association between body composition and colorectal cancer survival. Cancer Epidemiology, Biomarkers & Prevention. 2017; 26(7):1008-1015.

4. Caan BJ, Cespedes Feliciano, Prado CM, Alexeeff S, Kroenke CH, Bradshaw P, Quesenberry C, Weltzien EK, Castillo AL, Olobatuyi TA, Chen W. Association of Muscle and Adiposity Measured by Computed Tomography With Survival in Patients With Nonmetastatic Breast Cancer. JAMA Oncol. Ahead of print

5. Prado CM, Maia YL, Ormsbee M, Sawyer M. Baracos VE. Assessment of nutritional status in cancer – the relationship between body composition and pharmacokinetics. Anti-Cancer Agents in Medicinal Chemistry, 2013; 13(8): 1197-203.

6. Daily LE, Prado CM, Ryan AM. A window beneath the skin: how computed tomography assessment of body composition can assist in the identification of hidden wasting conditions in oncology that profoundly impact outcomes? Ahead of print: Proceedings of the Nutrition Society.

7. Laviano A, Molfino A, Rossi Fanelli F. Cancer-treatment toxicity: can nutrition help? Nat Rev Clin Oncol. 2012;9(10).

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